A loucura, sempre a loucura
Quem dirige pelas ruas de São Paulo tem duas opções não necessariamente excludentes entre si. A primeira, aliás, não é sequer uma opção, é uma obrigação, como um ritual xamânico de sobrevivência. Quem bobear, dança. Não há apelação, apenas aleatoriedade quanto ao momento. E ele chega sempre.
Basta ver como boa parte dos motoristas dirige, ou a tranquilidade com que passam os semáforos vermelhos como se continuassem verdes. A coisa é tão comum que os motoristas autorizados a sair pela luz verde aberta para eles, esperam um pouco para deixar o louco da vez passar.
A segunda opção é buscar o belo que, por incrível que pareça, existe, ainda que bem escondido nos buracos e desvãos da cidade.
As floradas que ao longo do ano se sucedem, explodindo suas cores contra o cinza da vida. O inusitado encontrado em cantos inimagináveis, que vão de uma placa de “proibida a entrada” numa chácara encravada no canteiro central da marginal do Tietê, a um girassol plantado na entrada de uma favela. Ou do jacaré tomando sol nas margens do Rio Pinheiros, o urubu pousando nas luminárias das pontes, e as placas de animais na pista, representados por saltitantes veados europeus, que nunca saltaram por aqui.
O problema é que nem sempre dá para procurar o belo. O risco do feio lhe atingir durante a empreitada é grande e pode acabar mal, como aconteceu com um pedestre, que na faixa de pedestres foi colhido por um táxi que passou o sinal vermelho, e ainda por cima, depois de bater nele, parou o carro, desceu com uma arma na mão e agrediu o pedestre brutalmente, porque quebrou seu espelho retrovisor.
Coisas da cidade grande que assustam, tanto quanto os assaltos.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.