Certos dias de primavera
Ainda que completamente imprevisível, o tempo em São Paulo pode ter momentos de intensa poesia, de encanto de conto de fadas, de terras mágicas, com gênios e fadas voando.
O contrassenso é evidente. São Paulo é brutal. E, no entanto, é capaz de nos dar dias de uma beleza rara e calma, ainda que cercados de trânsito por todos os lados, ainda que ameaçado em sua paz pela buzina destrambelhada de um alucinado querendo fechar um cruzamento.
São momentos de intensa alegria, ainda que de uma alegria tranquila ou contida, em elementos próprios, só dela, que a fazem mais presente dentro do coração da gente.
Normalmente não há por quê. O instante chega, e você percebe que ele chegou.
Uma mancha na parede, uma nuvem no céu, uma poça d’água refletindo um raio de sol. Não tem importância o que desencadeia o milagre. Ele simplesmente se faz e transforma o dia.
Faz da primavera a estação de todas as possibilidades, do renascimento da vida, do encontro e da mão estendida.
Fora do milagre a vida segue com seu jeito de vida. Violenta, inesperada, inconstante, alucinada como um caminhão desgovernado, ou um ônibus apostando corrida.
Mas que importa fora, se o momento é para dentro? Que importam todas as mazelas se um milagre transformou o dia em algo único e indescritível, com pássaros voando e árvores floridas e uma brisa leve, trazendo pra vida o cheiro gostoso da terra molhada?
Que importa qualquer coisa importante, se neste momento você se sente parte vital da estrutura do mundo?
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