Pitanga no pé
Pouca coisa é mais gostosa do que comer fruta catada diretamente da árvore. De laranja a jabuticaba, escolher a fruta, arrancá-la da árvore e comê-la, sabendo que em seguida comerá outra é muito bom.
Primeiro pela fruta em si. Segundo pelo gesto envolvido que remete ao começo da saga humana, quando ainda éramos seres primitivos e competíamos pelo espaço vital com outros animais que aos poucos foram ficando para trás na corrida pelo domínio do planeta.
Vale também o lúdico, a volta a infância do menino que cresceu passando as férias na fazenda da família, com pomar farto e árvores plantadas por todos os lados.
Lá tinha lichia, laranja, mangas de várias espécies, figo, morango, pera, abacate, mamão, que serviam também para fazermos fantasmas, e o mais que se imaginar no mundo das frutas.
E tinha os passarinhos atraídos pelas frutas maduras ao longo do ano. Sabiás, coleirinhas, canários da terra, rolinhas, tico-ticos, anuns brancos e pretos, almas de gato e mais toda uma série de pássaros dos quais não sabíamos o nome e que o Zé Santinho, quando também não sabia, generalizava, colocando-os numa grande família que ele chamava de “passarinho bobo do brejo”.
Como era bom, depois de uma longa cavalgada parar ao lado do pé de alguma fruta, catá-las do galho, descascá-las com um canivete de ponta quadrada e matar a sede com o suco que escorria da boca.
Por tudo isso, até hoje gosto de comer fruta no pé. Agora é tempo de pitanga, então nada melhor que achar uma pitangueira e ficar debaixo dela, comendo as frutas vermelhos como se fosse a comida dos deuses.
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