As duas igrejas do Largo de São Francisco
O Largo de São Francisco fica no fim de uma das pontas do antigo triângulo onde são Paulo começou. Desde o século 17 abriga o convento e as duas igrejas dos franciscanos e, depois do século 19, tornou-se também o endereço de uma das primeiras faculdades de direito do Brasil.
Até hoje, o largo de São Francisco abriga as duas igrejas e a faculdade onde eu me formei em 1976. E além delas, ficam lá o prédio da fundação Escola de Comércio Álvares Penteado, o largo do Ouvidor e o final da rua Líbero Badaró, com o prédio da antiga Cia. Paulista de estrada de ferro, o que faz dele um lugar com caráter único, numa cidade que vai diariamente perdendo seu caráter.
As duas igrejas, encarapitadas no alto do largo, encostadas na escola de direito, são o ponto de equilíbrio, a suavidade que quebra a imponência da faculdade e do prédio da fundação.
As duas são lindas, mas para mim, a igreja da Ordem Terceira é mais bonita do que a igreja de São Francisco.
Não só mais bonita, mas mais humana, o que faz dela um dos meus lugares favoritos para falar com Deus ou acender uma vela, quando ando pelo centro velho.
O conjunto tem segredos que com tempo foram ficando tão bem guardados que só os iniciados conhecem. É o caso da caveira, provavelmente de uma índia, que fica exposta num altar interior; e dos túmulos de alguns dos principais paulistas, enterrados ao longo das paredes de um grande salão, dentro do complexo das igrejas.
As duas igrejas têm linhas tipicamente brasileiras, e são um retrato exato de como eram as igrejas das cidades pobres, em contraste direto com a riqueza das igrejas franciscanas de Salvador e do Rio de Janeiro.
___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.