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Mortadela e crush no bar do Dito

A maioria não sabe do que eu estou falando, mas já teve época que o tema era rotina na vida dos bares brasileiros. Faz tempo, mas já houve época e foi depois do tempo do nunca ou das histórias de carochinha.

Quantas vezes por dia os funcionários dos bares populares serviam ovo duro com caracu? Pode parecer estranho, mas era o café da manhã de milhares de trabalhadores, que saíam de casa cedo, passavam no bar, pediam o ovo cozido com cerveja caracu e depois tocavam em frente, bem alimentados, rumo ao trabalho.

Não tinha hamburger, nem “xisburger”. Sanduíche era misto quente, misto frio, queijo, frio e quente, salame e mortadela, além dos mais sofisticados, bauru, filé e linguiça, invariavelmente seguidos de um café de coador.

Em Louveira, no Bar do Dito, eu parava o cavalo na porta, entrava, pedia um sanduíche de mortadela com queijo no pão francês (que era mais italiano) e, para beber, Crush. Me sentava na frente do balcão e ficava em paz, batendo papo enquanto a vida corria mansa, puxada pelos trens que seguiam pelos trilhos da Companhia Paulista de Estrada de Ferro, que cortavam a cidade, paralelos ao “Estradão” (antiga estrada São Paulo a Campinas), que era também a rua principal.

Nessa época, telefone era de manivela. Para falar tinha que passar por uma telefonista e a ligação de Louveira para São Paulo podia demorar mais de quatro horas para ser feita.

O “Estradão” entre Jundiaí e Vinhedo era de terra e servia de rua principal para Louveira, que na época era subprefeitura de Vinhedo. Como tinha pouco trânsito, as pessoas estacionavam os carros ou paravam charretes e cavalos na porta dos estabelecimentos. Eu fazia isso para comer sanduíche de mortadela com queijo e beber Crush no Bar do Dito.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.