A lágrima
A gota d’água caiu do teto do túnel e escorreu como uma lágrima pelo vidro do carro. Triste e melancólica, lentamente ela desceu pelo vidro, deixando um traço de saudade marcando seu caminho.
Como uma lágrima, a gota d’água se soltou dos olhos do túnel para traçar seu rumo no vidro do meu carro. Como a pele da face da mulher não mais amada, o vidro ficou marcado, molhado pela gota escorrendo feito um arado rompendo o solo.
Desceu nela toda a tristeza do mundo. Cada saudade de cada momento perdido numa nebulosa distante, aonde a realidade de todos os amores passados ainda chega no brilho fraco do sol se espalhando pelo universo.
A saudade de cada amante que sentiu saudade da amada e a saudade da amada que sentiu saudade da saudade do amante, depois que ele foi embora.
A lágrima desceu calma pelo vidro, marcando sua rota com pequenas gotas que foram sendo deixadas para trás.
Cada uma a cauda de um cometa com derrota própria e história diferente, cruzando o céu em busca do que nunca será achado.
Mas a gota sabe disto, por isso caiu feita em lágrima e não em gota. Para ela a busca não tem sentido, porque o perdido – e só depois lucidamente percebido – é que a fez se desprender do teto do túnel, e cair no vidro do carro.
A gota é a lágrima de todos os olhos que viram a distância jogar na sua frente o engano da partida. Os momentos sem volta, as palavras, o riso, o gesto desprezado que me afastou, criando uma realidade nova, onde a lágrima é o sinônimo da minha ausência e a sua própria negação.
Mas que sei eu das lágrimas que caem? Das mãos que se fecham? Dos olhos que não querem ver? Fica esta lágrima como homenagem, como compaixão, mas sem desculpas.
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