Pela cidade

Seu João gosta de caminhar pelo bairro. Não se importa com as ladeiras, sobe e desce, Pacaembu a fora, como se estivesse caminhando pelas ruas de Parati.

Seu João conheceu Parati quando não tinha Rio/Santos. Quando a viagem era pela serra de Cunha, na poeira ou pela lama, dependendo da época do ano. Ele gostava de parar e observar os trechos calçados, obra dos escravos para facilitar o escoamento do ouro que saía pelo porto da cidade.

Parati é antiga, bonita e charmosa, mas a Parati de Seu João não tem nada com a cidade de hoje. Da mesma forma que São Paulo.

A São Paulo pela qual Seu João gostava de caminhar era outra cidade, com outra gente, outros hábitos, outro ritmo, dentro da mesma loucura que faz São Paulo ter outra pegada, desde o começo da história.

Seu João gostava de caminhar pelo Centro. Tinha o Velho, do lado de lá do Viaduto do Chá, e o Novo, do lado de cá, em direção da Praça da República.

A Avenida São Luiz fazia diferença com seus prédios de apartamentos grandes e pequenos, todos edifícios com ar de Europa. Seu João morava lá e gostava de entrar pela Praça Dom José Gaspar, contornar a Biblioteca, se sentar por ali, ou engraxar os sapatos, e ficar vendo a vida passar, até chegar a hora de ir para o escritório, na Rua Marconi.

Ele saía do escritório, atravessava o Viaduto do Chá e seguia pela Rua Direita, na sua caminhada diária para o Fórum. Seu João é advogado. Formado pelo Largo de São Francisco.

Hoje ele só vai ao Centro raramente e fica triste quando vê a decadência da região. Seu João acha que já viveu muito, mas, aqui entre nós, tudo o que ele quer é continuar caminhando pelo bairro…

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