No grito não resolve
Cachorros latem. Gatos miam. Leões rugem. Cavalos relincham e muares zurram.
Em princípio, o ser humano fala, mas tem os que urram. Os que gritam, achando que no grito resolvem a parada. Durante milênios, os homens fortes levaram vantagem, com gritos ou sem. A força bruta era suficiente para impor sua vontade.
Mas, como dizem os americanos, se Deus fez as pessoas diferentes, quando percebeu a injustiça, criou o coronel Colt com a missão de torná-las iguais.
Durante muito tempo, a solução do coronel Colt imperou no mundo e tem gente firmemente disposta a aumentar sua presença no Brasil. Nos dias de hoje, quando o mundo civilizado se convence de que na marra não anda, tem gente querendo colocar milhares de armas nas mãos de quem não sabe usá-las.
O problema é que a verdade e a justiça não saem do cano de uma arma. Não explodem na pólvora que empurra a bala, nem viajam no tiro invariavelmente mal dado ou no grito escondido atrás do bando.
Os muares zurram porque é assim que se comunicam. É verdade, tem as histórias do Burro Falante, do Rinoceronte Quindim, do Gato de Botas e da Mula Sem Cabeça, mas isso não dá ao ser humano o direito de pretender se valer das formas de comunicação do reino animal para tentar impor sua vontade.
E, no entanto, é cada vez mais comum se ver, ou melhor, se ouvir, em tempos do declínio do macho, gente sem qualquer compostura urrar absurdos e tolices inacreditáveis, tentando impor sua falta de verdade.
Mais do que nunca, é tempo de uma profunda reflexão. A pandemia dá margem para ela. Em respeito à morte, é hora de baixar a bola.
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