Um lado feio da vida
Quando somos crianças, imaginamos que a vida é festa. Ou melhor, algumas crianças imaginam que a vida é festa. Muitas não têm chance de imaginar muita coisa e, mesmo assim, conseguem sorrir em meio à falta de quase tudo, inclusive amor e carinho.
Metade da população brasileira vive com até um salário-mínimo por mês. É número para nos encher de vergonha e levanta questões dramáticas sobre o futuro de milhões de crianças e jovens que, a cada dia que passa, veem suas chances na vida se estreitarem.
Se a notícia de que a maioria dos alunos que entraram na USP cursou escolas públicas merece ser comemorada, o descompasso causado pela pandemia vai cobrar seu preço de quem já não tem muito para pagar.
Mas este é um quadro exposto diariamente por todas as mídias. Não tem muito segredo, a não ser o que as pessoas não querem ver, porque notícia triste espanta o leitor.
O drama está em outro quadro, mais dramático e que não tem relação com a situação social. Acontece em todas as classes e de todas as formas, com muito mais frequência do que nós gostaríamos que acontecesse.
Quem contou esta história numa reunião da Academia Paulista de Letras foi a professora Luciana Temer. O tema abordado foi a violência sexual contra a criança.
É uma narrativa de horror, baseada em dados estatísticos, que se repete diariamente de norte a sul do país. Em um ano, milhares de crianças sofrem abusos de todas as ordens, inclusive sexual, e o dado apavorante é que boa parte deles acontece dentro de casa, praticados por parentes ou pessoas muito próximas.
A palestra da professora Luciana Temer expôs uma cicatriz trágica que macula a sociedade brasileira. Esta realidade não pode ser abafada.
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