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Os arranjos de mesa

Os arranjos de mesa poderiam ser belos e simpáticos, mas invariavelmente não o são, sendo maiores do que deveriam ser, ou de gosto duvidoso, mais para o emergente do que para o sóbrio, ou, em outras palavras, para o bom gosto.

Se a questão toda se encerrasse aí, os arranjos de mesa não teriam a menor importância. O problema é que a questão não se encerra aí e os arranjos de mesa são, de verdade, uma das mais eficientes máquinas de tortura inventadas pelo homem.

Perto deles, ou de parte deles, invenções especificamente criadas para causar dor e sofrimento ao ser humano se reduzem a simples brincadeiras de criança, porque, fora o aspecto assustador, que alguns arranjos de mesa também podem ter, na comparação da eficiência, os arranjos de mesa, mesmo parecendo mais suaves, podem infligir muito mais sofrimento.

A situação é sempre delicada, principalmente quando o arranjo de mesa faz parte da decoração de uma festa ou de uma mesa de restaurante fino.

A gente se senta, com um sorriso nos lábios, olha pra frente e não vê quem gostaríamos, que está a poucos centímetros, porque o arranjo de mesa tem o dom de estar bem no meio, feito na altura e na largura certas para impedir a visão.

Mas eles não a impedem completamente. Pelo contrário, como artefatos destinados a causar o máximo de sofrimento, eles deixam sempre um vão por onde é quase possível ver a companheira.

E na esperança de ultrapassar o “quase” e chegar a vê-la, a gente se contorce para um lado e para o outro, para cima e para baixo, enquanto ela também se contorce, sempre na direção contrária da nossa, fazendo de um almoço ou de um jantar um verdadeiro balé ou um espetáculo de contorcionismo ímpar, dando ao restaurante uma coreografia toda especial, que lembra a dança de acasalamento dos flamingos nos filmes sobre a vida selvagem.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.