Pressione enter para ver os resultados ou esc para cancelar.

A cerejeira da Santa Casa

O Brasil não é pródigo em cerejeiras. A árvore não é nativa, então não tem muitas e as que tem nem sempre estão em locais de grande visibilidade. É o que acontece no jardim da frente da Santa Casa de São Paulo. Na companhia do ipê amarelo centenário, que daqui a pouco estará florido, tem um bom número de outras plantas, desde pequenos arbustos até árvores encorpadas, que formam um pequeno bosque, raro de se ver igual pelas ruas da cidade.

Entre as árvores mais ou menos escondidas, ou anônimas, tem uma cerejeira que outro dia, durante o almoço, eu vi pela janela que está florida. E está florida como manda o figurino, de alto a baixo, galho a galho, as flores vermelhas ocupam seus espaços, quem sabe saudando os Jogos Paraolímpicos de Tóquio, que acabam de começar.

As cerejeiras são as árvores símbolo do Japão. Lá, o culto à perfeição de suas flores remonta a centenas de anos, ao tempo que xoguns e samurais lutavam pelo poder no arquipélago e se matavam com ritos de crueldade, mas sem perder a ternura pela beleza e pelo encantamento das pétalas das flores das cerejeiras floridas.

As Olímpiadas recém terminadas coincidiram com a florada das poucas cerejeiras brasileiras. Com certeza não foi coincidência. Os tempos dos dois momentos são similares e eles se cruzarem foi apenas a consequência lógica do passar das horas.

Mas isso é filosofia demais e não explica uma árvore deslumbrante. A simples florada da cerejeira escondida no pequeno bosque da Santa Casa de São Paulo é mais do que suficiente para justificar todos os impossíveis e pautar a poesia minimalista que explode como delicados “hai kais” em suas pequenas flores vermelhas. A cerejeira florida retrata a vida em sua magia. E ela garante que o bem vai vencer.

___
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: SpotifyGoogle Podcast e outras.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.