Certas luas cheias
Muito tempo atrás eu vi uma lua cheia que eu nunca mais esqueci. Antes de erguerem o paliteiro em volta, tinha uma boate chamada Aquarius, no alto do Morro do Maluf, no Guarujá.
Foi dos lugares gostosos que eu frequentei. Uma parte era coberta, a outra, um terraço de onde se via o mar. A noite estava linda e a lua cheia estava lá, deslumbrante, enorme, com seu brilho desenhando uma estrada de prata rumo ao infinito, em cima das águas calmas do mar de verão.
Depois, outra lua me marcou tanto que é uma imagem recorrente. Numa noite de outono, o céu azul serviu de fundo para uma lua cheia enorme, iluminando um lago cravado no meio de dois morros.
Isso para não falar nas centenas de luas cheias que se seguiam ao por do sol que nós íamos ver, a cavalo, no alto do morro da Cabaninha, na fazenda de Louveira. Nas noites de lua, a volta era iluminada pelo seu brilho. E, depois do jantar, nós descíamos ao terreiro para continuar olhando o céu, enfeitiçados pelo brilho do satélite apagando as estrelas.
Certas luas cheias são mágicas, transcendem a realidade, criam um cenário único, de mitologia feita realidade, onde os deuses somos nós, tocados pelo brilho quase agressivo da lua tomando conta do céu.
A última lua cheia criou este cenário para quem mora em São Paulo. Cheguei em casa de carro, voltando de Belo Horizonte, desci e dei de cara com a lua redonda, enorme, amarela, subindo e tomando conta do céu.
O brilho era tão intenso que saía da lua para tingir e quebrar o azul profundo do céu. Imagem de ficção científica, de planeta perdido numa galáxia distante, onde a vida é o sonho feito realidade.
Ou a contrapartida do feio e ruim deste mundo mesmo, na poesia reencontrada, na vida mais bonita, na possibilidade de todas as possibilidades serem verdade.