Telefone celular
Das poucas coisas que um telefone celular quase não faz é ser um telefone. Não se conversa mais, não se diz alô com frequência, não se escuta a voz do outro, substituída num texto escrito numa linguagem truncada que faria Camões, Cervantes, Shakespeare, Goethe, Dante e tantos outros grandes escritores se sentirem perfeitos analfabetos, perdidos no meio de um mundo ensandecido, onde tudo é feito através de máquinas, aliás, uma máquina e seus app’s.
As pessoas não conversam mais. Os textos substituíram as palavras. Não se diz “eu te amo”, se escreve “eu te amo” e a resposta é “tb”.
Tanto faz o que diz a gramática, a boa tradição do idioma, as pessoas atualmente falam pouco, teclam curto, leem pouco e assistem muito.
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Os canais com imagem acessíveis pelo celular estão arrebentando com a vida das televisões. Para quê televisão se eu assisto o que quero num aplicativo no meu celular?
Confesso que ainda fico um pouco espantado. Telefone para mim é uma máquina para falar com outra pessoa. Mas os celulares mudaram isso. Telefone é uma máquina para isolar as pessoas.
A comunicação é em grupos mais ou menos fechados, criados por terceiros que não têm nada com isso, mas dizem quem vai falar com quem. No Facebook tem regularmente gente que o outro não conhece, ou mal conhece, erguida a amigo próximo por um programa de uma empresa que deveria prestar seu serviço de forma neutra.
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É triste entrar num restaurante e ver o pai, a mãe e os dois filhos cada um com sua máquina, completamente desligados um dos outros.
Não há mais diálogo. Não há mais olhos nos olhos. Não há mais o sentimento vivo nas mãos que se apertam. No abraço. No beijo. Minha pergunta é se já criaram um app para fazer amor…
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