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Cachorros com botas

A artilharia brasileira, na guerra do Paraguai, era conhecida como “Boi de Botas”. Não cabe aqui explicar o porquê, até porque o espaço é pequeno e o que eu quero comentar é que virou moda os cães de botas.

Literalmente. Enquanto na guerra do Paraguai a imagem era força de expressão, nas ruas de São Paulo, com destaque para a Avenida Paulista, a coisa é de verdade: os cachorros andam de botas para não contaminarem as patinhas e patonas na sujeira das calçadas.

Eu não sei se é um absurdo, mas é no mínimo inusitado. E a prova viva da imensa contradição que distorce um país chamado Brasil.

Contradição que explica os micos-leões-dourados receberem mais por indivíduo do que as crianças abandonadas no Estado de São Paulo.

Contradição fruto do politicamente correto incorretamente compreendido e que nos leva à inversão absoluta da ordem natural, pela qual os seres da mesma espécie deveriam se juntar para melhorar suas condições de sobrevivência, como acontece com elefantes, lobos e leões, mas que aqui gera situações inusitadas, com o ser humano relegado ao mais completo abandono e animais de estimação vivendo no paraíso.

Nada contra os animais de estimação serem bem tratados, amados e protegidos. Não é por aí. Chamo a Clotilde, nossa boxer, para testemunhar por mim.

Mas será que não há exagero em os cães andarem de botas, enquanto seus proprietários caminham com prosaicas sandálias, para evitar que se contaminem com a sujeira das calçadas?

Para finalizar, quem cuida dos milhares e milhares de desabrigados, moradores de ruas, crianças abandonadas, meninas estupradas nas bocas de droga e de seus filhos malcuidados, vivendo como dá? Quem lhes garante pelo menos os mesmos direitos do mico-leão-dourado?

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.