Mingo Fernandes
Meu amigo de infância, Mingo Fernandes, morreu. Nada que não vá acontecer com todos nós, mas, agora, me parece quase uma traição.
Meus amigos não nasceram para morrer. Eles deveriam ser proibidos de fazer isso, mas como eu não mando na vida e quem está lá em cima é que sabe a hora de cada um, o jeito é me conformar. Meu amigo, Minguinho, morreu e não tem nada que eu possa fazer para reverter o quadro.
Simplesmente isso e a saudade de um tempo em que o Guarujá era pequeno, quase não tinha prédios, tanto que alguns dos meus companheiros do Iate moravam em casas em vez de apartamentos.
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Meu pai e os pais deles nos deixavam no Iate Clube de Santos e nós passávamos o dia no clube, na época muito simples, a sede de madeira e com uma única bacia para barco. Os veleiros ficavam de um lado, as lanchas do outro, e com lugar de sobra para quem quisesse ser sócio.
Éramos o Cesar e o Tatu Giobbi, o Mingo Fernandes, o Maurinho Monteiro e eu. É curioso como até hoje me lembro do nome das lanchas: a Colibri, do meu pai; Simbad, do pai do Maurinho; e a Brisa, do pai do Mingo.
Não me lembro do nome do veleiro do pai do Cesare e do Tatu, mas era um veleiro classe Brasil e ele ganhou várias regatas importantes velejando nele.
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O barco mais bonito, para não dizer espetacular, era a Brisa. Uma Cris-Craft de cinquenta pés, com um desenho lindo, ainda mais naquele tempo, quando os barcos eram na média menores, em tamanho e potência.
Eu tinha um veleiro menor do que um Optimist, mas com sua vela caranguejeira nós varávamos de um lado para o outro, pela piscina e pelo rio que corre em frente ao clube. Depois meu pai me deu um motor penta de 3 cavalos, que fazia toda a diferença. Foi uma época muito boa, em que ser feliz era fácil e nenhum de nós imaginava que poderíamos morrer.
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