O poncho peruano
No começo de 1975, meu primo Rodrigo Mesquita e eu fizemos uma viagem fantástica. Saímos de São Paulo para a Argentina, onde pescamos trutas; cruzamos pelos lagos andinos para Puerto Mont, no Chile; subimos de trem para Santiago; tomamos um avião para a Ilha da Páscoa; de lá fomos ao Taiti; para voltar para Santiago; voar para a Bolívia; viajar para Cusco; conhecer Machu Picchu; voar para Lima; depois para Iquitos e Letícia; e de lá descer o Rio Amazonas até Manaus, pedindo carona para os barcos da região.
Para mostrar que o mundo é realmente pequeno, o barco em que fizemos a maior parte da viagem, Guaraná Baré, que trocava cerveja por mantas de pirarucu, era do avô do meu sócio, Armando Char.
Depois de 41 anos, é impressionante, mas ainda tenho, como recordação desta viagem, um poncho, comprado em Puno, às margens do Lago Titicaca, no Peru, logo depois da fronteira com a Bolívia.
Puno era o penico do mundo. Se um lugar podia ser ruim e feio, este lugar era Puno. Chegamos lá morrendo de sede, depois de uma noite gelada, passada quase que em claro no altiplano boliviano, porque o ônibus de Morales e Moralitos, que deveria nos levar até Cuzco, pegou fogo.
Fomos resgatados no dia seguinte por outro ônibus que nos levou até Puno. Lá, tive três prazeres: beber uma coca cola gelada assim que desembarcamos, dormir num hotel que alugava leitos em vez de quartos, e era o melhor do lugar, e comprar meu poncho no mercado local.
Daí pra frente, ele me acompanhou o restante da viagem, veio comigo para São Paulo, foi intensamente usado ao longo de todos estes anos e continua no armário, perfeitamente usável até os dias de hoje.
Por que me lembrei dele? Porque nos dias frios não tenho a menor vergonha de colocar meu poncho peruano por cima do moletom.