A culpa não é da BMW
A perua BMW branca atravessou o semáforo vermelho como se não tivesse amanhã, como se seu motorista fosse o dono da cidade.
Não é que atravessou entre o amarelo e o vermelho, não. O semáforo estava vermelho e um motoqueiro já estava cruzando a rua quando teve que brecar bruscamente, por causa da perua desembestada, tocando a buzina, que cruzou sem se importar com a cor do semáforo.
Esta descrição tem um erro. E erro proposital. Erro para chamar a atenção de que a culpa não é do carro, não é da perua BMW, é de seu motorista que, pelo simples fato de estar dirigindo um carro de perto de duzentos mil reais, deveria dar o exemplo e respeitar os sinais de trânsito, em vez de cometer barbaridades capazes de colocar a vida de quem não tem nada com seus problemas, ou suas frustrações, em risco.
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Um amigo costuma dizer, com toda a razão, que, se você quer ver quem uma pessoa realmente é, lhe dê poder.
É evidente que o motorista dessa BMW é rico, mas frustrado, e tem o triste complexo de “você sabe com quem está falando?”
Nada que não ocorra regularmente, com mais frequência do que seria razoável, nas mais diversas situações da vida.
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É por isso que nunca vou esquecer um aluno do Colégio Dante Alighieri que, depois de minha palestra no centenário da escola, me chamou num canto e pediu discretamente minha opinião sobre o que ele deveria fazer da vida, diante de duas possibilidades de prosseguir seus estudos.
Seus colegas não sabiam que era filho de um homem poderoso e queria tratar o assunto sem chamar a atenção, para continuar sendo um aluno comum. Fiquei impressionado com a maturidade do rapaz e o discernimento de seus pais. Se tivéssemos mais gente como eles, o motorista da BMW não cruzaria o semáforo vermelho da forma como o fez.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.