O sorriso idiota de vitória
Tem gente que vibra com o outro dar errado. Tanto faz o quê, dando errado, ele abre um sorriso idiota de absoluta felicidade.
O cidadão olhou com ar de vitória. Encheu o peito e estampou um largo sorriso no rosto. Girava a cadeira de um lado para o outro e nos olhava certo de que estava certo, de que havia vencido, de que o mundo era plano e que, como nós não tínhamos chegado lá, ele podia cortar.
Para ele, não havia outra resposta senão a certeza de que não havíamos cumprido a meta. Se estávamos no rumo certo, se os sacrifícios feitos começavam a apresentar resultados era indiferente. O fato impossível de ser negado é que não havíamos cumprido a meta e que, portanto, as penalidades deveriam ser aplicadas.
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Aplicadas integralmente, sem discussão, sacralizadas no mantra que ele insistia em repetir e repetir, como único argumento, justificando o sorriso idiota que iluminava sua cara.
Nós não havíamos cumprido a meta, então não interessava mais nada, era aplicar as penalidades e pronto.
O sorriso era justo: mais uma vez não havíamos cumprido a meta. Para que perder tempo com argumentos ou números que indicavam com meridiana clareza, que, depois de alguns anos de luta insana, estávamos no rumo e, dependendo da análise, dentro da meta?
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Não, bom, mas bom mesmo era ver-nos – dependendo da análise, tendo chegado lá – sermos reprovados, no limiar das possibilidades de um futuro melhor e mais generoso para milhares de pessoas.
O bom é ter certeza de que deu errado. O bom é fazer dar errado, torcer, jogar contra e depois vibrar porque deu errado. Tanto faz quem e o quê será prejudicado. Tanto faz os empregos pedidos, os que não serão atendidos. Bom é o sorriso idiota iluminado a face. Os outros que se danem.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.