A rotina se chama sibipiruna
Depois da florada maravilhosa dos ipês rosa, que deixaram para o último minuto a explosão de suas flores e com isso nos pegaram de surpresa, a vida segue em frente. A vida segue em frente porque a vida não é caranguejo, não para, nem anda para trás. A vida é a vida e chega e pega porque chega e pega, mas a pegada é diferente de pessoa para pessoa.
Depois dos ipês rosa, é a vez das sibipirunas darem o ar da graça. Sua florada é completamente diferente da florada dos ipês, mas nem por isso não cria um cenário mágico, com as delicadas flores amarelas deitadas em cima da copa verde, compondo com o azul do céu e o branco das nuvens as cores de nossa bandeira.
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As sibipirunas são árvores frondosas, crescem relativamente rápido e sua copa se espalha larga, formando uma grande sombra no chão.
Nem todo mundo sabe que uma sibipiruna é uma sibipiruna e aí eu me lembro da explicação torta que o Zé Santinho dava quando não sabia que passarinho era aquele – “É passarinho bobo do brejo”.
Como as pessoas não sabem que a sibipiruna é a sibipiruna, é bem capaz de saírem com “é uma árvore boba do brejo”, se alguém perguntar se sabem que árvore é aquela.
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As sibipirunas são árvores que me falam de perto. Na fazenda da minha infância tinha longos renques de sibipirunas plantadas ao lado das estradas, então são próximas e me falam de lembranças boas, que são as melhores de todas.
Elas me tocam como o cheiro de pão quente saindo da chaminé de uma padaria num domingo de manhã. Ou como o cheiro de terra molhada trazido pela brisa depois da tempestade de verão. A vida é feita de momentos. Uns são mais importantes, outros menos. A florada das sibipirunas é sempre especial.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.