O Centro Velho
Dependendo do pedaço da rua, o Centro Velho lembra as cidades abandonadas por causa da peste negra, guerra ou invasão dos bárbaros.
Os prédios mal conservados, com as portas e janelas muradas, sujos, pichados, servem de ponto de encontro, de refúgio para os moradores de rua embrulhados em seus trapos, caídos sob as marquises, drogados, bêbados ou dormindo como se estivessem mortos.
Servem de sombra para os ladrões, que se esgueiram encostados nas paredes, esperando a próxima vítima para roubar-lhe o telefone.
Algumas janelas oferecem o espetáculo das roupas dependuradas, quais bandeiras agitadas, prometendo um estranho festival. Festa de trapos mal lavados a mostrar que nos prédios invadidos é sempre feriado nacional.
Isso do outro lado da rua, bem em frente da sede da Prefeitura, no edifício onde, por anos, esteve instalado um dos bons hotéis de São Paulo.
Mais longe, os cuidados diminuem. Os prédios são cortiços verticais, ocupados por centenas de pessoas, sem qualquer condição de uso.
Às vezes um fogão é atirado de uma janela, enquanto as latas vazias voam com mais frequência, dando uma leve noção do parâmetro de parte das gentes amontoadas lá dentro.
Pode mais quem pode mais. Quem cedo madruga só acorda cedo. É muito mais fácil invadir do que entrar na fila usada politicamente por todos os políticos que têm acesso ao mecanismo mágico de trocar voto pela garantia da casa própria, de preferência furando a fila.
O Centro Velho tem a melhor rede de serviços da cidade. Energia, gás, água, esgoto, telefone, transporte, está tudo lá. Mas, em vez de ser usada para gerar qualidade de vida, o que se vê é o abandono, o descaso e a politicagem destruindo o patrimônio da cidade.