Ele para você é problema dele
O primeiro corolário do primeiro volume do primeiro tomo da magnífica obra do filósofo William Scott Pitt, que a partir de do século 16 influencia as sociedades, como pilar para o desenvolvimento filosófico e intelectual da civilização ocidental, com todo o impacto que teve sobre a história da humanidade, é lapidar.
“Você para mim é problema seu”. Analise a profundidade da colocação, escrita com inefável simplicidade, para se abater como um tsunami sobre a costa baixa de uma região densamente povoada.
“Você para mim é problema seu”. É exato, perfeito, não necessita adjetivação para ser melhor compreendido.
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“Você para mim é problema seu” leva o egoísmo humano ao extremo, ao ponto além da resistência da corda, ao cume, para além da possibilidade de outro além. É definitivo. Impositivo e profundamente verdadeiro.
Não há contra-argumento, não há negação, contraponto, desculpa.
É o egocentrismo do século 21 elevado à última potência, como a validação de todas as premissas negativas da física quântica. O avesso recosturado em outro avesso como a negação do mais importante mandamento. A redescoberta do amor como algo que não importa mais.
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Ao andar pelas ruas das grandes cidades do mundo, Nova Iorque, Londres, Paris, São Paulo, tanto faz, poderiam ser outras dezenas, a imagem dura e impactante do morador de rua enrolado em seu cobertor velho é a certeza da vitória do egoísmo exacerbado, definido e tipificado pelo filósofo centenas de anos atrás.
“Você para mim é problema seu” se expandiu para “Ele para você é problema dele”. A escala se multiplicou, perdeu a individualidade, se tornou social, coletiva, desesperadora. E não há muito que se possa fazer.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.