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Você ajuda por egoísmo

Ajudar alguém é ato absolutamente individual. Você ajuda porque quer, não porque o outro precisa.
A necessidade alheia é o argumento, a razão para uso externo, o gesto que te deixa bem na foto. De verdade, você ajudar ou deixar de ajudar é decisão sua e de mais ninguém. O outro não tem nada com isso.

As razões invocadas são invariavelmente as mais nobres, mais abnegadas, mais caridosas, mas são apenas razões para justificar um ato que não é de quem necessita, é de quem atende.

Ninguém dá esmola porque o outro pede. Damos porque queremos.

Duvida? Responda honestamente: você dá esmola para todas as pessoas que você cruza nas ruas e esquinas da cidade? E, se dá, o valor é sempre o mesmo, indistintamente, tanto faz a razão que lhe comova?

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Não. As razões que nos levam a dar esmola ou, em casos mais sérios, a ajudar alguém são essencialmente subjetivas. Nós decidimos, nós escolhemos, nós praticamos o ato, da mesma forma que poderíamos nos negar a participar dele.

As razões reais que nos fazem ajudar o próximo são razões mais próximas de nós do que do próximo. Pode ser reconhecimento, retribuição, lealdade, compra de prestígio, aceitação, etc.

Tanto faz, são todas nossas. O próximo apenas recebe o que queremos fazer para ele ou por ele. Ele é o objeto da ação, não a razão de ser dela. Essa é nossa. Só nós sabemos e invariavelmente não contamos.

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As pessoas se sentem bem fazendo o bem. Tudo bem, nessa premissa, quem se sente bem é quem faz o bem. Se quem recebe o bem vai se sentir bem é outra história, que não é a de quem fez o bem.

Por isso, se ajudar alguém, não espere um muito obrigado ou reconhecimento. Você fez porque quis.

Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.