A família segue em frente
Meu primo Erasmo me contou que meu tio Marcelo Mendonça faleceu recentemente, aos noventa e cinco anos de idade, em Porto Alegre.
Era o último de sua geração, a geração de meu pai e seus primos, nascidos na primeira metade do século passado. Meu pai era dos mais velhos e, se fosse vivo, hoje teria noventa e oito anos.
A história da família no Brasil remonta a meados do século dezoito, quanto meu antepassado saiu da Ilha Terceira, no arquipélago dos Açores, para vir, assinado um contrato com a Coroa portuguesa, povoar e defender o Rio Grande do Sul, então permanentemente ameaçado pelos castelhanos do outro lado da fronteira.
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É assim que a família participa da fundação de Viamão e Porto Alegre, para depois se estabelecer como estancieiros na região de Pelotas.
Grosso modo, é uma história de sucesso e a estância Galatéia e o casarão na Praça Principal de Pelotas confirmam o desenvolvimento de sua gente, inserida desde cedo nas lides políticas e econômicas do Rio Grande do Sul, o que, curiosamente, explica meu nome.
Me chamo Antonio porque meu tataravô foi feito prisioneiro numa das últimas guerras regionais do século dezenove e, para ele não ser degolado, minha bisavó, que estava grávida, prometeu que o filho se chamaria Antonio e andaria vestido de santo até os cinco anos de idade.
O velho voltou para casa, meu avô foi batizado de Antonio e eu ganhei o seu nome.
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Meu ramo migrou para São Paulo no começo do século vinte, quando meu avô foi trazido pelo advogado Joaquim Mendonça, que veio antes e se casou, sucessivamente, com duas netas de D. Veridiana Prado. Outros vieram depois.
Outros ficaram em Pelotas e outros foram para Porto Alegre. Duzentos e sessenta anos depois, a família segue em frente, da mesma forma que milhares de outras famílias que fazem a história do Brasil.
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