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O sol e a peneira

Diz o velho ditado que não adianta tapar o sol com a peneira. É verdade, não adianta. Mas e o contrário, tapar a peneira com o sol, será que tem mais chances de sucesso?

Foi isso que um amigo decidiu. Será que tem jeito de tapar a peneira com o sol?

Ouvi aquilo e fiquei na minha. Afinal, pra que colocar em dúvida uma hipotética grande ideia? Mas, para mim, o primeiro problema era pegar o sol. Como convencer o astro rei que ele deveria se sujeitar a servir pra tapar uma peneira?

Como não se queimar e como não queimar a peneira? Fiz cara de janela com vidro fechado. Cara de paisagem seria pouco para não externar o que eu estava pensando. A quase absoluta certeza da inviabilidade da ideia do meu amigo me fazia cócegas.

Cara de janela tem a vantagem de ser absolutamente neutra. Alguns momentos da vida exigem isso: neutralidade absoluta. Seja por esperteza, seja por falta de certeza, seja por necessidade, há casos em que ser imparcial é pouco. Nessas horas temos que ser neutros. Absolutamente neutros, duma neutralidade solar.

Acompanhei meu amigo. Fomos para o jardim da casa dele. Ele com uma peneira na mão, procurando o melhor ângulo para usar o sol para tapar a peneira. Vira pra cá, vira pra lá, estende o braço, muda o ângulo da peneira e… eis a posição perfeita.

De repente, lá estava a peneira tapada pelo sol. A luz intensa simplesmente impedia que nós víssemos a peneira. Apenas o brilho do metal refletia um corpo invisível. Meu amigo estava certo, se não dá pra tapar o sol com a peneira, então, o jeito é tapar a peneira com o sol.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.