O malandro e o esperto
Durante décadas o Brasil foi famoso pelo malandro. O cidadão, especialmente, do Rio de Janeiro que sempre achava uma forma de dar um jeitinho e tocar em frente, sem trabalhar muito, sem fazer força ou perder tempo com as dificuldades da vida.
A imagem era tão forte que Walt Disney, na época da segunda guerra mundial, criou a figura do Zé Carioca, daí pra frente amigo inseparável do Pato Donald.
Bom vivant, jeitoso, capaz de dar nó em pingo d’água, o Zé Carioca, o malandro brasileiro, não se apertava. Com muita lábia, levava o próximo na conversa, mostrava o lado bom de tudo que ele prometia e pegava o outro pela palavra, fosse lá qual fosse.
O malandro prometia. Prometia os tesouros do Eldorado. O tíquete de entrada para o paraíso. O campeonato de futebol. Os números da loteria. O telefone da corista. E até conversar com o delegado.
Tanto faz, o malandro prometia. Cumprir era outra história, porque nesta hora ele costumava estar longe, aproveitando o golpe bem aplicado. Sem violência, sem maldade, na manhã, na conversa mole, na lábia que o fazia vender centenas de quilômetros de mar como se fosse um loteamento na praia, ou receber dois cheques porque o segundo ficava no arquivo.
Agora o Brasil vive a época do esperto. A diferença básica entre os dois é que se o malandro levava São Pedro na conversa, o esperto se associa com Judas pra levar vantagem em cima dos outros.
A nova postura apavora. E é ruim para os brasileiros, porque o esperto quer que o mundo se dane, desde que ele fique bem na foto. A vantagem tem que ser dele, ainda que às custas de toda a nação.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.