As ruas e as homenagens
Durante muito tempo me pareceu estranho que pessoas muito famosas fossem homenageadas nas placas de ruas pequenas, enquanto gente menos importante virava grandes avenidas.
Não tinha lógica, exceto morrer na hora certa. Morrer na hora certa envolve duas variáveis. A hora da morte e as ruas e avenidas que estão sendo construídas quando ela acontece.
A hora da morte é crucial para o tamanho da homenagem. Se o cidadão morre no auge da fama, com certeza terá uma grande homenagem, ainda que a época seja de poucas obras.
Se ele passa o momento de glória e morre alguns anos depois, ainda que sendo lembrado, estará fora de moda, então a homenagem será menos importante.
De outro lado, para que aconteçam grandes homenagens é necessário que haja grandes obras para dar-lhes o nome do morto.
Não é possível dar o nome de alguém, por mais importante que seja, para a avenida não aberta, ou para uma ponte que é apenas projeto.
Além disso, a cidade nem sempre segue o rumo imaginado pelos políticos e aí ruas sem importância se tornam importantes, resgatando nomes os quais ninguém lembra ou sabe quem foi.
É por isso que a cada dia que passa, eu dou mais razão a meu pai.
Quando alguém achava que era importante e se imaginava inesquecível ele perguntava: Quantas vezes por dia você pensa em Quéops?
Pois é, Quéops construiu a grande pirâmide para não ser esquecido e ninguém lembra dele. O que dizer de qualquer um de nós que quando muito fez só um pouco? Dúvida? Então pense e responda: o que aconteceu no dia 23 de maio, ou quem foi Bernardo Goldfarb.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.