É fácil sonhar
Faz pouco tempo, eu tinha certeza que ganharia a megasena com duzentos milhões de reais acumulados. Não tinha erro. Era minha vez de ganhar e duzentos milhões são mais do que suficientes para eu não precisar fazer mais nada na vida, além de viver bem.
Num gesto magnânimo, aceitava dividir o prêmio com mais um ou dois ganhadores. Eu não preciso tanto para viver muito bem, fazendo o que eu quero, do jeito que gosto.
Eu poderia até sair gastando por conta, afinal, não tinha como eu não ganhar. Era jogo de carta marcada, barbada dessas que quem joga em cavalo sabe que não fura.
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Questão de chegar o dia, acontecer o sorteio, conferir os números só no dia seguinte, porque superstição faz bem e eu respeito, e depois embolsar a bolada.
Não podia dar errado, mas deu. Não me perguntem onde é que a coisa entortou, mas eu não ganhei os duzentos milhões, nem dividi o prêmio com mais dois ou três.
Simplesmente não paguei nem placê e tinha certeza que era páreo de ponta. Tem quem vai dizer que sonhar não paga imposto e outras coisas assim, mas não era sonho, era certeza. A megasena acumulada era minha, estava escrito nos astros, no tarô, leitura de mão, borra de café e outras formas infalíveis de saber o futuro.
Era tanta certeza que já estava fazendo planos para o dinheiro, quem iria administrar, onde iria aplicar, como iria dividir, etc.
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Quando conferi e vi que não tinha levado os seis números, imaginei que a Caixa tinha cometido um engano, que o resultado estava errado. Aí caiu a ficha. Não ganhei porque não era para ganhar, era vez de outros dois, que devem ter ficado felizes com a bolada. Paciência. Na próxima eu ganho.
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