Os rumos e as referências
A lua é uma referência. Um marco no céu. As nuvens não são. Não se prestam para isso. São rápidas demais, dinâmicas, instáveis e se desfazem com a sem cerimônia de quem não tem nada a perder.
A lua é ponteiro de bússola. Norte que segue rumo e trajetória com hora certa para não interferir no desempenho das marés.
Mas se a lua é dona da noite, o dono de tudo é o sol. Quer dizer, de quase tudo. Acima dele voam constelações, nebulosas, buracos negros, todos parte de uma estrutura maior, Via Láctea, Andrômeda ou outras tão distantes que não têm sequer um nome.
O polo é o norte. Mas que sei eu do polo se não o vejo, nem o percebo, exceto na gravidade e nas agulhas imantadas?
Meu caminho tem outro rumo que não segue sempre para o norte. O rumo pode ser sul, leste ou oeste. Ou pode ser outro e subir e descer.
Meu sertão é feito de velhos portolanos, roteiros esquecidos, rios que não têm mais os antigos nomes e lagoas douradas, onde o ouro e as pedras preciosas são tão fartos que servem de tijolos e blocos para construir as cidades.
Meu rumo segue a lagoa de teus olhos. Busca os tesouros escondidos em teus campos. Percorre tuas longas estradas. E para na sombra das matas para descansar e matar a sede na fonte escondida pelas orquídeas.
Violetas servem de pouso para borboletas peregrinas que guiam meus olhos e desvendam os segredos escondidos desde o começo dos tempos.
Mas eu não me assusto. São eles a razão de ser, o mote, a rima e o verso que dão nexo e consistência à minha poesia.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.