O banqueiro anarquista
Para se entender o Brasil, ou melhor, os brasileiros, eu recomendo um conto genial do poeta Fernando Pessoa. “O Banqueiro Anarquista” é uma obra prima da prosa portuguesa e descreve com enorme precisão uma corrente da inteligência nacional, representada pelos grandes empresários de “esquerda”.
Até nisso somos surpreendentes. Nós temos banqueiros, industriais, empreiteiros, grandes advogados que cobram fortunas, médicos com polpudas contas correntes e mais polpudos investimentos, todos de “esquerda”.
Em contrapartida, o grosso de nossa população, bem mais pobre, é majoritariamente, de “centro direita”.
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Tem quem diga que o fenômeno só existe por causa da história da Igreja Católica no país. Pode ser que sim, pode ser que não. O fato concreto é que, hoje, parte dos nossos padres se preocupa muito mais com o corpo do que com o espírito e a preocupação aumenta mais ainda no momento em que é o corpo deles que está na reta.
O conto de Fernando Pessoa mostra exatamente esta incongruência. Na forma de uma entrevista com o maior empresário de Portugal, que se diz anarquista, mesmo sendo o homem mais rico e poderoso do país, o poeta cria uma trama fantástica, na qual o banqueiro, contando sua história, explica que a única forma de destruir o capitalismo foi ele se tornar um empresário mais eficiente do que os empresários capitalistas, sem, todavia, perder os mesmos ideais anarquistas que tinha aos vinte e cinco anos.
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Nossos empresários “socialistas” são caricaturas do banqueiro anarquista. É ver os vinhos, uísques, carros, aviões e helicópteros que nossos “socialistas” gostam para não se ter dúvida. O socialismo brasileiro divide a pobreza e concentra a riqueza… entre os amigos.
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