Não há a menor chance de mudar logo
Outro dia, no almoço com um bom amigo, coloquei para ele minha teoria sobre o Brasil não avançar e, toda vez que estamos na boca de um salto para alguma coisa melhor, alguém puxar o tapete e voltarmos para trás, jogando pela janela muito esforço, tempo e dedicação.
Não tem jeito. Remamos, remamos e remamos, mas na hora da chegada alguém rema contra e o barco vira em vez de cruzar a linha em primeiro lugar.
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Conversando com um outro amigo, chileno, concordamos que muito disto tem suas origens na culpa católica de parte da classe média alta latino-americana, o bom e velho socialismo caviar, que quer reformar o mundo, diz que se preocupa com os pobres, mas, em vez de fazer algo mais sério, continua bebendo champanhe francês, andando de carro alemão e voando de primeira classe, além de, evidentemente, surgindo a oportunidade, fazer um negocinho de pai para filho com um agente público, em condições que mais ninguém no país tem.
Mas, voltando ao almoço, eu falei minha definição, ou síntese, do porquê damos errado: “o país foi milimetricamente planejado para dar errado e quem planejou era competente”.
Ele me olhou, ficou um tempo calado e respondeu: “E não precisa se preocupar… não há a menor chance, no curto prazo, disso mudar”.
Lamentavelmente, ele está certo. Meu desenho deve continuar nos assombrando por muitos anos, pelo menos até decidirem que é hora de levar educação, saúde e segurança a sério.
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Que não dá para continuar como vai, com cem milhões de pessoas ganhando até um salário mínimo por mês, sem a menor condição de mudar de patamar, porque não têm acesso ao básico para poderem fazer mais. É pena, mas vai continuar ruim por muito tempo, se não ficar pior.
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