Saudades
Confete pedacinho colorido de saudade, de uma pastora que não tem pena de mim que sofro tanto pelo seu olhar. Linda criança, tu não me sai da lembrança, meu coração não se cansa de tanto, tanto, te amar.
Ah essa saudade louca que antigamente florescia em sambas e hoje acaba num torpedo enviado à amada, torto e sem jeito, como as primeiras cartas de amor.
Quantos dias, pior ainda, quantas noites sem te ver, sem saber de você. Acordado no escuro, pensando. Sentindo saudades. Vendo teu sorriso, tua presença materializada nas sombras da madrugada mal desperta, ameaçando invadir o quarto pela fresta da janela.
Saudade. Saudade. Saudade de dias e dias sem saber de você mais que os segredos das mensagens frias, me dizendo que você está bem.
Mas como saber se as mensagens não têm tua voz, não tem teu encanto, teu jeito único de dizer oi?
Ah, o progresso mata a gente, morena. Que saudade do tempo em que sentir saudade acabava em samba e em alegria.
Hoje, é tudo hermético. Tudo focado, tudo fechado. Cada coisa no seu lugar, por trinta e três centavos, mais impostos, você sabe dela e não paga se for a mesma operadora.
Tanto faz. Quero você ao vivo e em cores, desfilando na minha escola, ao som da bateria alucinada, tocando o samba enredo pra você.
Quero a felicidade de andar pela vida levando você em cada sonho, pintada nos muros, renascida em cada flor que se abre inteira, na cor da vida que escorre pelos galhos dos manacás.
Ah, quero você ao vivo e em cores, como a heroína da novela, milagrosamente materializadas nas ondas do torpedo frio e sem emoção.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.