O lado bonito da pandemia
Tudo no mundo tem mais de um lado, até a pandemia do coronavírus. Quem viu o céu de São Paulo em alguns finais de tarde recentes sabe do que eu estou falando.
Se não fosse o coronavírus e a ameaça que ele representa, os paulistanos não teriam se recolhido dentro de suas casas e, consequentemente, não teríamos as tardes que tivemos, com o céu lembrando um quadro de Monet, mas numa escala sideral.
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Quem viu, viu; quem não viu, não viu. E como não existem palavras que consigam descrever o que aconteceu no céu de São Paulo, quem não viu vai saber que teve, mas não vai conseguir entender o que teve, pelo menos na sua grandiosidade poética, como numa ode grafada por Deus.
Quantos anjos foram necessários para pintar o céu? A quem Deus incumbiu de criar na tela do céu a paisagem de sonho que mudou as tardes da cidade?
Não, não é por aí. Ou melhor, é por aí, sim, porque só a mão divina poderia criar um sonho tão real e tão completo quanto estes pores de sol.
A natureza faz parte de Deus? A natureza é Deus? Quem sou eu para ter estas respostas, mas, seja como for, a natureza tem a incrível capacidade de surpreender, no nascimento de uma nova vida, na erupção de um vulcão, no tsunami que se abate sobre a praia, na brancura da primeira neve caída no alto da montanha.
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Não há dúvida. É verdade, os pores do sol foram o que foram porque uma série de conjugações naturais moldaram os fins de tarde.
Mas se nós não estivéssemos dentro de casa e, por isso a poluição tivesse diminuído, os pores do sol não teriam tido a intensidade que tiveram.
Quer queira, quer não queira, se não acontecesse a pandemia do coronavírus, São Paulo não teria um céu de outono como o céu de 2020.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.