Desencontro
Os desencontros acontecem. E a vida passa, indiferente à felicidade que perdeu o barco, aos amantes que perderam a chance, ao que poderia ter sido, mas nunca será.
A vida passa. Toca em frente, visita outras praias, outras nuvens no horizonte, vê o sol ao meio dia e se emociona com o pôr do sol puxado pela Ave Maria tocada num sino de capela de fazenda.
A vida passa. Segue seu curso, indiferente ao mundo em volta ou ao indivíduo dentro do mundo.
Para ela a felicidade do próximo é problema do próximo. A vida segue em frente, encontra outras pessoas, reparte com elas os momentos bons. A alegria que bate à porta, o pão na mesa, o fogo aceso.
Não adianta esperar, ela não vem. Como a chuva que não cai e depois de um tempo não deixa sequer uma esperança nas nuvens que não chegam.
O desencontro cruzou a linha, deixou confuso o que deveria ser claro, remarcou o encontro inadiável de hoje para depois de amanhã.
A vida segue em frente. Se abre de outra forma para outras pessoas. O que é bom para um não é necessariamente bom para outro.
A sensação de perda pode ser diferente. As leituras não são iguais, nem semelhantes. O ser humano não é igual, é apenas vagamente semelhante. Também na alegria.
O que poderia ter sido não será. O momento perdido não tem volta. Não tem história. Não foi.
Fica um gosto amargo na boca. A sensação de perda dói dentro do peito. Os olhos olham as mãos. Os fios estendidos em cima da rua. E as mãos se retraem, porque não tem mais sentido permanecerem abertas
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.