E as pessoas somem
É incrível, mas todos os dias pessoas desaparecem sem deixar rastro. Saem de casa e não voltam. Em algum lugar no meio do caminho acontece alguma coisa que ninguém sabe o que é, e a pessoa desaparece, engolida pela cidade grande.
Numa época em que as câmeras são as donas do pedaço alguém simplesmente desaparecer é inacreditável. A vigilância ostensiva não serve, na maioria das vezes, para auxiliar nas buscas. É como se de repente um raio vindo do além carregasse o corpo para outra dimensão. E ele vai, sem deixar uma pegada, um sinal, um bilhete de adeus.
Some no meio da massa, engolido pelas ruas, escondido pelas sombras, arrastado pelo cinza.
Alguns, depois de um tempo, são encontrados. Sofreram um acidente, perderam a memória, se perderam em lugares que não conheciam, foram sequestradas, fugiram ou morreram.
Outros não. Nunca mais são vistos. Somem como se não tivessem existido, e, no entanto, deixam uma história real, um pedaço de vida para desmentir a não existência, iniciada um belo dia, em hora incerta.
Se transformam em fotografia na parede, em lembrança doída, em desespero para a família.
O pior castigo é a incerteza. Não saber se está vivo ou morto. Se passa necessidades, se precisa de algo, se alguma coisa poderia ter sido feita para evitar o desaparecimento.
Como fazer para evitar isso? Não tem como. Não tem jeito. O mundo moderno é duro e cheio de desvãos onde a vida humana some, ou é apagada, por um gesto de maldade, por um acidente, por uma fatalidade. Apenas porque tinha que ser.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.