Máscara com óculos
Usar máscara com óculos é quase a mesma coisa que guiar um Opala Especial 2500 debaixo de chuva. Eu sei porque eu tive um, ano 1971, verde amazonas, placa AM 6392.
Comprado na Zona Sul Veículos, esse carro rodou, em dois anos, mais de noventa mil quilômetros, o que me dá a tranquilidade de dizer com certeza o que era guiar um Opala em dia de chuva. E se meu testemunho não for suficiente, meu amigo Zé Cássio está aí para confirmar o que eu estou dizendo.
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Meu Opala Especial se chamava Verdinho, por causa da cor pouco usual, o forte verde amazonas. Tinha estofamento xadrez e câmbio de três marchas, na coluna de direção. Para regular o breque de tambor nas quatro rodas, a GM recomendava engatar macha-ré, acelerar e frear forte.
Além disso, foi um dos dois únicos carros em São Paulo a ter um toca fitas de carretel instalado. Com quatro alto-falantes e dois twiters, tinha um som pra lá de bom, especialmente naquela época em que os carros mal e mal vinham equipados com rádio AM.
Mas se o Verdinho era um sucesso, até nas lamentáveis estradas de Parati daquele tempo, que ele atravessava com correntes nas rodas de trás, quando chovia, ele era um desastre. Os vidros embaçavam solidamente. Não era uma embaçadinha leve, que você passa a flanela e tudo bem. Não, embaçava pra valer e não tinha o que resolvesse, você passava a flanela, embaçava de novo e depois de um tempo, o vidro ficava molhado. Aí, melhorava porque a umidade não permitia que continuasse embaçando.
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Não tinha mágica, nem solução. Nem passar fumo de cigarro resolvia. Melhorava, mas não resolvia.
Usar máscara cirúrgica com óculos é a mesma coisa que andar no Verdinho em dia de chuva. Embaça e não tem o que resolva.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.