O barulho dos aviões
Ao longo dos últimos meses, a cidade descobriu uma nova forma de escutar o dia, uma forma mais silenciosa e amigável, como se os ruídos infernais que fazem da vida uma loucura nunca tivessem existido.
A primeira redução foi a do trânsito. De repente, as pessoas perceberam que o som alucinante da motoca com o escapamento aberto, passando a menos de sessenta quilômetros por hora, desapareceu. Em seu lugar ficou o zumbido da vida da cidade, mas mesmo este ficou muito diminuído, por conta da queda do número de veículos nas ruas, provocada pelo isolamento social que, no começo da pandemia, foi respeitado por uma bela parcela da população.
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Com menos carros atravancando suas ruas, a cidade descobriu que o barulho diário não era mais tão intenso, nem tão irritante, e que o céu tinha ficado mais azul e o por do sol mais bonito.
Foi como se a paz dos anjos descesse sobre a vida das pessoas. Rapidamente, o que era deixou de ser e as pessoas descobriram que a irritação cotidiana estava menor e que a vida corria mais fácil, com menos desacertos, ainda que com mais contato, promovido pelo isolamento dentro das casas.
Mas não foi só o barulho das ruas que diminuiu. No começo, muita gente não entendeu o aumento do silêncio e não prestou atenção no fato de que os aviões não estavam voando e que não tinha o ronco desesperado das turbinas decolando, nem os pousos, menos de dois minutos depois.
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Com o relaxamento do isolamento social e a retomada de algum tipo de vida pré-pandemia, os aviões retomaram seu lugar na paisagem sonora e o ruído de suas turbinas recomeça a fazer parte da rotina. Se tem o lado da volta do barulho, tem também a informação reconfortante de que a vida tenta seguir em frente.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.