Que me importa?
Que me importa se as ruas da região da Berrini não andam. Que se parecem com sucursais do inferno, destinadas a causar o máximo de dano com o mínimo de esforço?
Que me importa se a estátua da mulher nua nunca mais foi encontrada e já tem gente que duvida que ela tenha fugido com o Ricardão?
Que me importa se menos de 10% dos crimes são apurados e menos gente ainda vai presa, mesmo os réus confessos de crimes apavorantes?
Que me importa se o dia amanhece feio ou se a chuva e a sujeira são responsáveis pela inundação de partes vitais da cidade?
Que me importa o feio e o cinza dos imóveis abandonados, como imensas telas a disposição dos pichadores?
Que me importa o outro lado da vida, se o meu lado é o lado em que você está e quando você passa o mundo se transforma?
Ah, pensar em você. Fechar os olhos e te ver. Imaginar como você está a cada momento do dia.
De manhã cedo, com preguiça de acordar. Mais tarde, saindo apressada porque está atrasada. E na hora do almoço, preocupada com o que a cozinheira colocará na mesa.
Pensar em você é iluminar as tardes frias e cinzas de certos dias de outono.
É redescobrir a cor do capim gordura florido, nos outonos da minha infância. É saber que as cores das paineiras têm o condão de modificar o humor dos pássaros.
É ter certeza de que a sua simples lembrança faz mais alegre o dia.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.