Outro centro em outra época
O Centro Velho já foi um lugar movimentado, com milhares de pessoas de paletó e gravata cortando suas ruas, entrando e saindo de escritórios luxuosos, instalados nos prédios, hoje, pichados, sujos, com as marquises servindo de telhado para pessoas em condição de rua.
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Lojas como Casa Orestes, Fretin, Garbo, José Silva, Lojas Americanas, Calçados MM, Malas Carioca dividiam seus espaços com restaurantes, bares, lanchonetes e o maravilhoso empório, Casa Godinho.
Falar do Itamarati depois do artigo do meu amigo Eros Grau é chover no molhado. Mas o Centro Velho tinha outras preciosidades, como a Casa Califórnia, instalada numa garagem da rua São Bento, que fazia o melhor cachorro quente da cidade e um sanduiche de linguiça de Bragança capaz de deixar Pantagruel babando.
Tinha o Lírico e a Leiteria Paulista, os dois no mesmo estilo, mais formais, mas populares, despojados e capazes de encher os olhos e a barriga de quem se sentava nos seus balcões.
O restaurante do Jockey, sofisticado, ocupando dois andares da imponente sede do clube, na Rua Boa Vista – o oitavo para os sócios e o nono aberto ao público – era o contraponto, onde só se entrava de paletó e gravata e eu adorava frequentar, sentado com meus amigos ao lado dos grandes empresários da época.
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Mas o bom mesmo, para mim, era almoçar em dois bares/restaurantes absolutamente especiais e que eu nunca vi igual em nenhum lugar do mundo. O Guanabara, que ainda está lá, e o Maranduba, que fechou as portas faz vários anos. A especialidade da casa era o sanduiche inventado. Você pedia: “Jesus, me faz um inventado na canoa” e vinha um sanduiche inacreditável, inesperado, sempre diferente, com tudo e mais alguma coisa, capaz de fazer São Miguel Arcanjo pecar e o diabo voltar pro céu.
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