Saudade do CPOR
Mais um ano se passou. Como eu sei? Poderia dizer que é porque meu aniversário chegou, poderia dizer que é porque outros aniversários chegaram. Todos os dias passa um ano, nas lembranças que são resgatadas, nas histórias que nunca envelhecem.
Ah, o capacete com gelo no frio da madrugada! Meu amigo Jorge Lincoln, quanta lembrança bonita de uma época que está lá atrás, mas que toda vez que nos encontramos é como se fosse ontem. 1971 não acabou, apenas adormeceu, como alguns alunos que partiram antes da hora.
Leia também: Saudades
Tiro ao alvo, o porta-malas do meu Opala invariavelmente era carregado com mosquetões e um cunhete de munição calibre ponto trinta.
Treino de natação – Stuart e Julio – no frio absurdo do inverno de uma piscina velha. A nossa barraca parecia um palácio, abastecida com os cuidados das mães, preocupadas porque estávamos acampando.
Os obuses de cento e cinco milímetros impunham respeito. Prepará-los para atirar era coisa séria. Tinha que cavar o chão para enterrar a trava porque, senão, quanto atirava, o recuo fazia a peça mudar de posição.
Eu desmaiei no sete de setembro em pleno gramado do Estádio do Pacaembu. Estávamos em forma e eu simplesmente caí, apaguei e, enquanto me socorriam, o tenente Milton ordenou a salva de tiros de pólvora seca, que fizeram barulho disparados num obus cento e cinco. O eco dos tiros reverberou na concha acústica, assustando o povo no estádio.
Leia também: Você presente
Um dia em que eu quis discutir, o Capitão Molinari me perguntou: “Penteado, quantas estrelas você tem no ombro?” Olhei meus ombros, não tinha nenhuma, por isso respondi: “só tenho estrela na lapela, capitão”. Ele prosseguiu: “eu tenho três no ombro, então você obedece e não discute”.
Foi um ano mágico. Quarenta e nove anos depois, eu e meus companheiros, meus amigos até hoje, nos lembramos dele com saudades.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.