A armadilha
Os índios brasileiros tinham armadilhas extremamente eficientes para caçar e pescar. Não quer dizer que não fossem capazes das maiores barbaridades, como o uso de cipó venenoso para matar toneladas de peixes que deixavam apodrecendo nas margens das lagoas, ou armadilhas que pegavam tudo, de filhotes a peixes grandes. Eram. E não tinham a menor vergonha de tacar fogo numa campina inteira para caçar dois veados que alguém tinha visto pastando por lá dois dias antes.
Entre as armadilhas, como os mundéus, para caça, e os cercos, para os peixes, uma que merece atenção era uma espécie de puçá com a boca larga, que ia afunilando até o peixe não conseguir fazer a volta para conseguir sair.
Cada vez que eu entro na Inácio Pereira da Rocha para subir por trás do cemitério São Paulo, pela Luis Murat, tenho a certeza que quem desenhou a planta da junção desatas ruas tinha sangue índio e gostava de pescar, ou é um sádico, disposto a ver cenas de sangue, pelo esgotamento da paciência de um cidadão mais apressado que fica preso na armadilha que foi montada, seguindo a tecnologia do funil dos índios.
A Inácio vem larga, com duas pistas, enganando a vítima incauta que entra por ela convencida que enganou todo mundo. Não enganou. De repente a situação fica clara e aí não tem mais nada a ser feito, exceto entregar a alma a Deus porque o corpo, este, já foi.
A rua se estreita, vira um funil complicado, com ruas menores desaguando e saindo dela e o resultado é que para tudo, sem apelação ou ponto de fuga.
Nem que pode mais chora menos. Simplesmente não tem o que fazer. Qualquer tentativa de sair dali está condenada ao fracasso, pelo menos até a metade da subida o que também não resolve nada.
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