A Kombi em ruínas
Não há dúvida, as carroças fabricadas pela indústria automobilística nacional podiam não ser sofisticadas, mas eram extremamente resistentes. Para tirar a limpo é só prestar atenção na quantidade de carros velhos de todos os tipos e marcas que ainda circulam pela cidade.
E quando eu digo carro velho, estou pensando em carros velhos mesmo, não estes entre 15 e 20 anos que ainda circulam com pinta de carros novos, alguns se dando até ares de grandes carros importados, o que foram nos dias do presidente Collor, logo depois da abertura das importações.
Não acredito que nossas máquinas modernas, bem acabadas e confortáveis resistam ao tempo e as condições de nossas ruas e estradas com a galhardia com que os velhos modelos ainda circulam pelas ruas, alguns verdadeiras obras de arte; amarrados com arame, colados com massa epóxi, quando não remendados numa enorme soma de peças de diferentes veículos do mesmo modelo, cada uma de uma cor, como se fosse carnaval ou final de copa do mundo.
Parado atrás de um que algum dia foi uma Kombi, fiquei impressionado com a mensagem gravada na traseira do resto de lataria, logo em cima da placa retocada com tinta preta: “liberada do rodízio, lei sei lá que número, produtos perecíveis”.
Fiquei fascinado, primeiro com a coragem do motorista em continuar dirigindo aquilo e, segundo, com a mensagem, porque quem já havia perecido, mas pelo jeito não sabia, era a própria Kombi.
Cheia de buracos no corpo, com o para-choque balançando quase solto, amarrado com arame, fumegando feito destróier da primeira guerra mundial, ela era um hino à resistência, ao otimismo e à perseverança.
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