As ruas mais escuras
É curioso acompanhar o processo, mas dependendo do bairro, algumas ruas vão ficando mais escuras, como se houvesse uma tentativa de recuperar as noites coloniais, quando a lua cheia era a melhor iluminação e a lua nova fazia alegria dos namorados.
Não sei de quem foi a ideia, mas em princípio ela é boa e só não é melhor por um pequeno detalhe: nenhum paulistano tem vontade de andar nas ruas depois que escurece. Aliás, vontade não é a palavra certa, o que a maioria sente é medo.
Medo de assalto, de levar um tiro e do escuro que até pouco tempo só assustava as criancinhas porque homem grande não tem medo das travas, pelo menos quando sabe que a mula sem cabeça não vai aparecer.
O fato é que algumas ruas vão se apagando como se tivessem criado um sistema gradual e automático de fazer as luzes definharem, sem auxílio humano direto, baseado apenas na durabilidade das lâmpadas e da falta de vontade de trocá-las.
Além desta, existem várias outras teorias, desde a que diz que o que acontece é para a prefeitura economizar na conta de luz, até algumas bem radicais, como a que afirma que tudo não passa de um acerto com travestis e prostitutas, dependendo do lugar na cidade, para lhes facilitar o pão nosso de cada noite, protegendo os clientes com o manto de sombras que Drácula já usava para atacar suas vítimas.
Eu sei que a maldade humana é incontrolável, mas não há como não expor algumas posições mais radicais, ainda eu não compactue com elas, como é o caso deste hipotético acordo em favor de atividades perigosas e muitas vez prejudiciais à saúde pública, para não falar na degeneração moral num país onde a ética é mercadoria cada vez mais escassa.
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