Abre-te sésamo
Abre-te, Sésamo! E a porta se abriu. A enorme rocha rolou e no seu lugar apareceu um buraco, ladeado por colunas, encimado por pedras de mármore e calçado de paralelepípedos.
Fenda enorme e desconhecida, escondida ninguém sabe desde quando atrás da rocha mágica, que, como um portão intransponível, guardava segredos que nem os antigos conheciam.
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A magia se perdera com o passar dos séculos. A pedra na entrada da caverna era apenas uma enorme pedra, rocha sólida encostada em rocha sólida, com certeza despencada do alto do morro num fim de tempestade no começo dos tempos.
O paredão liso não tinha outra fenda, nenhuma pista de que atrás da rocha pudesse haver uma caverna. Nenhuma notícia de que ali, naquele exato lugar, o segredo da magia se escondia, esquecido no fundo de uma caverna.
Mas era lá que ele estava. Adormecido pelos séculos, sem ser incomodado pela rotina das estações que se seguiam e que mal eram percebidas do outro lado da pedra sólida que fechava a entrada da caverna.
Esquecido, o segredo não era bom, nem era mau. Era apenas um segredo esquecido, como tantos outros que explicariam a origem do mundo, mas que se perderam na memória da imensidão do tempo.
Então, um dia em que o céu estava cinza e o vento sul passava assobiando pelas janelas com medo, alguém ouviu de dentro do vento uma voz que falava palavras mágicas e contava antigos segredos.
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A curiosidade humana abriu a caixa de Pandora, e abriu outras caixas, libertando o bom e o belo, e guerras e doenças e pragas como contrapartida. O homem parou diante da pedra e gritou: “Abre-te, Sésamo!”. A pedra rolou para o lado e da caverna escorreu uma lágrima, que se perdeu no mar.
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