Não voe alto
Até hoje eu me lembro de meu tio Alfredo Mesquita me dizendo, cada vez que eu ficava ansioso, querendo muito alguma coisa: “não queira muito porque um dia você consegue”.
Para o jovem de mais ou menos 18 anos, querendo engolir a lua cheia num grande banquete, a frase não fazia muito sentido, em primeiro lugar porque o negócio era conseguir o que se queria, e em, segundo, porque do muito que queria eu só conseguia um pouco.
Mas o tempo foi passando e a vida foi ensinando e eu acabei aprendendo mais um pouco, e me convenci que meu tio tinha razão, uma razão que só se mostra mais tarde, quando deixamos de acreditar em todos os sonhos e que ser o super-herói é fácil.
Invariavelmente, quando queremos alguma coisa, fazemos uma força do cão, quase vendemos a alma para o diabo, e, quando conseguimos o que queríamos, descobrimos que não vale a pena.
Que não é tão bom, nem tão bonito. Que jogamos tempo e paciência fora, por algo que não merecia tanta dedicação.
É duro, mas faz parte da experiência de vida de cada um. Pode doer ou magoar, mais ou menos, mas quem disser que nunca passou por isso, ou não entende o que acontece em volta ou está mentindo.
Mas tem vezes que vale a pena. Que a luta e a entrega têm a recompensa e a recompensa paga todos os preços. Que é bom e que ser bom ultrapassa o sonho, fazendo do sonho a realidade.
Nessas horas a vida ganha sentido. Fica alegre, colorida, com a felicidade como algo próximo e verdadeiro. É por isso que devemos ser parcimoniosos e aceitar as coisas como elas são. Não sonhar alto. Deixar a vida ser, ainda que ameaçada ou tênue como um fio de cabelo.
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