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O nome da igreja do Rosário

Poucas igrejas na cidade têm um nome tão bonito quanto o da igreja do Rosário. Quem sabe a da Ordem Terceira de São Francisco, mas, mesmo assim, não sei se é tão imponente, tão positivo, tão orgulhoso de suas origens e por isso, tão digno.

O nome completo da igreja do Rosário é Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Homens pretos. Essa é a diferença imensa entre a igreja do Rosário e a maioria das igrejas de irmandades da cidade São Paulo. Igreja dos Homens Pretos. Nesta definição estava implícito um mundo, um universo imenso e maravilhoso que fazia a diferença entre os homens livres e os escravos.

Na época colonial, legalmente, os escravos não eram homens, eram coisa. Daí terem donos. Os homens eram seres livres, donos de seus destinos, capazes de praticar atos com validade legal. Atos vedados às mulheres em geral, aos índios e aos escravos. Atos possíveis apenas para uma minoria que se orgulhava de poder praticá-los.

Por isso a importância e a imensa dignidade contida no nome da irmandade de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Eles eram cidadãos com todos os direitos inerentes aos homens livres, aos brancos que eram os donos de escravos que eles, apesar da cor, da raça, não eram mais.

Eram homens livres, integrantes de uma irmandade, dona de uma igreja, com procissão afamada, num dos principais pontos da vila de São Paulo: a atual Praça Antonio Prado. E que foi demolida no começo do século 20, para dar espaço ao crescimento da metrópole, depois da irmandade ganhar uma nova área, e uma nova igreja, também em zona valorizada à época. A atual igreja do Rosário, no Largo do Paissandú.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.