A cara no rádio
Rádio é emoção pura. Transmitida pela voz. É a capacidade de transmitir uma imagem que o outro não vê, só imagina, com a voz. É a possibilidade de criar um universo místico, ou uma cena real, usando as palavras e a entonação da voz para formar o quadro, com moldura e tudo.
Por outro lado, rádio é a possibilidade da imaginação levada ao último grau. A criação do personagem de acordo com a vontade do ouvinte. Alguém que ele acha simpático, ele faz bonito, alguém que lhe é antipático fica feio. E assim sucessivamente, com todas as impressões causadas pela voz, pelo som, pela empatia.
Sensação depois de sensação, arrepio depois de arrepio, concordância ou discordância dando forma, e contorno, e sombra, para a vida que sai de um alto-falante, como um milagre, ou um oráculo, capaz de prever o futuro, comentando o passado.
Cada programa tem suas características, cada característica tem sua voz e cada voz sua personalidade. É isso que faz do rádio uma troca viva entre a voz e a imaginação, entre quem fala e quem ouve, que cria o quadro que lhe passar pela cabeça para construir um estúdio, e colocar dentro a voz que ele escuta, sem cara, sem corpo, na cara e no corpo que ele achar que lhe cai melhor.
É pura magia e é diversão, ainda que a sério, com consequências e resultados; com começo, meio e fim.
Fazer rádio é compromisso de quem faz e ouvir rádio é entrega de quem ouve. Os dois trocam muito, ainda que um passivo e outro ativo. E o mais curioso é que o ativo é quem ouve, que pode mudar de estação todas as vezes que por alguma razão não concordar com o que a voz sem cara está dizendo, seja pela razão que for.
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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.