Ainda uma vez o centro velho
Eu sou apaixonado pelo centro velho de São Paulo. Mesmo deteriorado, eu gosto daquele pedaço da cidade. Eu me habituei com ele no começo dos anos 70, quando entrei na Faculdade de Direito e, daí pra frente, por prazer ou por dever profissional, nunca mais deixei de cruzar suas ruas, que há 20 anos eram cheias e movimentadas, mas que hoje estão entregues aos camelôs e aos poucos pedestres que passam, deixando enormes vazios onde se escondem os fantasmas do passado.
Quem se lembra de restaurantes como o Maranduba, que fazia um dos melhores sanduíches do mundo? Quem se lembra, ainda fica com água na boca, pensando no inventado, passado por cima do balcão lotado, pelas mãos mágicas do sanduicheiro chamado do Jesus.
Tinha também a Casa Califórnia, onde se comprava e se comia um dos melhores sanduíches de linguiça do país. A placa ostentava um orgulhoso fundada em 1924, ou coisa que o valha, que lhe dava uma tradição imensa, mas, infelizmente, insuficiente para fazer frente ao esvaziamento do centro e a falta de fregueses.
Na esquina da praça do Patriarca ficava a Casa Fretin, com toda a mágica de seus aparelhos brilhando nas vitrines antigas. Bem em frente da faculdade ficava a Casa Orestes, que vendia bichos de todos os tipos, de estimação e para serem comidos.
E tinha duas pastelarias, a Acadêmica e a 11 de Agosto, onde se comia um pastel maravilhoso, quando a vigilância sanitária as deixava funcionar.
Foi uma outra época que, mesmo com a recuperação do centro velho, não volta mais. O país mudou, a cidade mudou de endereço e a vida seguiu seu rumo, deixando apenas as saudades de um tempo bom.
Siga nosso podcast para receber minhas crônicas diariamente. Disponível nas principais plataformas: Spotify, Google Podcast e outras.
Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.