Os dois lados do rio
Todo rio tem duas margens. Elas não precisam ser iguais, mas cada uma baliza um lado, criando desenho próprio, a jusante ou a montante, tanto faz se você olha daqui ou olha de lá.
Às vezes as margens são parecidas, outras não. Uma pode ter mata fechada enquanto a outra é pasto ou lavoura. E vice-versa. Não tem porque o lado de cá ser privilegiado. Cada lado é um lado. As diferenças maiores aconteciam na época das estradas boiadeiras. Às vezes o lado de cá era mais fértil por isso tinha mais fazendas que o lado de lá.
Hoje não é mais assim. Cada margem tem seus rituais, mas normalmente nas margens dos rios ocupadas há muitos anos, os dois lados botam banca, ainda que um com lavoura e ou outro com gado.
Tem rio de todo o tamanho. Um riachinho de nada pode fazer a diferença que um rio enorme, largo de não se ver a outra margem, não faz.
Os rios muito largos servem de fronteira entre estados, fazendas e freguesias, entre as gentes da região. São o ponto final da jornada, o marco que consagra antigas divisas de capitanias e sesmarias.
Os riachos de meio metro separam as terras, mas não afastam as pessoas, nem as rixas, nem as disputas. Tem quem ache que não tem mais rolo de terra Brasil a fora. Ledo engano! O pau come solto de sul a norte, com ênfase onde menos se espera.
Alguns rios são sinuosos, outros correm planos e retos pelas campinas. Quando chove, os rios sinuosos enchem porque a água não tem como fugir. E os paus descem rolando na correnteza e encalham nas tranqueiras das margens, onde rodopiam, rodopiam até se soltarem e seguirem rio abaixo, até ficarem presos em outra tanqueira ou outro poço, onde pegam fôlego para seguir viagem.
Os rios são como a vida, nunca voltam, nem sentem saudades.
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