Lua cheia em Sagres
No alto do promontório de Sagres o Infante Dom Henrique contemplava a imensidão Atlântica sonhando descobrir terras escondidas pelos séculos e pelas lendas.
Pra lá da vastidão azul quebrando incessantemente no lado norte das escarpas abrutas, havia de haver terra, muita terra, e outros povos para negociar e serem convertidos em nome do Cristo, para maior glória da igreja e riqueza de Portugal.
A aspereza do cenário é perfeita para enquadrar a fé do príncipe. Nenhum outro painel se adequaria tão perfeitamente a sua figura austera, permanentemente em penitência, que não o escolhido por ele mesmo, a poucos quilômetros da vila de Lagos, de onde partiam suas caravelas.
Sagres vale a visita. Lá está a explicação para a odisseia portuguesa e para seu derradeiro canto, escrito depois dos Lusíadas, pelos bandeirantes arrancando da Espanha as fronteiras do Brasil.
Na terra rude e dura, o vento passa constante, condenando a vegetação a ser pobre e pouca. No entanto os rochedos entrando no mar são a contraprova de uma força teimosa, que não se entrega, nem teme a adversidade. Sagres é o retrato da alma de Portugal e a explicação para seu império. E eu fui até lá…
De repente, silenciosa como as criaturas noturnas costumam ser, a lua cheia surgiu imensa, clareando a noite, dando outra perspectiva aos rochedos, e moldando uma larga estrada de prata que atravessava as águas do mar.
Há muito tempo eu não tinha tempo para as noites de lua cheia. Que bobagem. É nelas que os mistérios da vida tomam forma. É nelas que nossas almas se abrem. Por isso elas valem a pena.
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