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Por que telefone não faz mais trim?

Quem tem a minha idade se lembra dos telefones pretos, que eram praticamente os únicos que existiam no mercado. Lembra também do tempo que demorava pra fazer um interurbano e como era complicado falar no telefone.

Por outro lado, lembra com saudade que normalmente as casa tinham uma única linha que dava para família inteira, inclusive com os filhos namorando.

Mas o mais importante e o que realmente faz falta, é que os telefones naquela época tinham barulho de telefone. De uma forma ou de outra, mais alto ou mais baixo, mais ou menos agudo, os telefones faziam trim. Trim e mais nada. O barulho era claro e tinha um sentido definido. Queria dizer que o telefone estava tocando e que alguém tinha que atender. Não se confundia com campainha interna ou externa. Não se confundia com rádio ligado. Não era aviso de tempestade, nem de que as Valquírias estavam chegando com Valhala correndo atrás.

O Trim era sempre do telefone e por isso não assustava, não causava pânico, não enganava, não fazia todo mundo sair correndo atrás do apito, do urro, da música ou sabe Deus que outro ruído os telefones modernos fazem, em vez de fazerem o velho e bom trim que no mundo inteiro era a marca registrada do aparelho tocando.

Hoje a coisa ficou infernal. Quando você menos espera, um dragão urra ao seu lado, ou então uma música oriental anuncia uma gueixa que nunca chega, ou Wagner despenca em cima de você, enquanto Strauss é tocado com som sintético, como se as valsas fossem feitas para anunciar gás. A única coisa que não existe mais é o bom e velho trim que durante décadas foi o reconfortante som dos telefones.

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Crônicas da Cidade vai ao ar de segunda a sexta na Rádio Eldorado às 5h55, 9h30 e 20h.

Antonio Penteado Mendonça

Advogado, formado pela Faculdade de Direito Largo São Francisco, com pós-graduação na Alemanha e na Fundação Getulio Vargas (FGV). Provedor da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (2017/2020), atual Irmão Mesário da Irmandade, ex-presidente e atual 1º secretário da Academia Paulista de Letras, professor da FIA-FEA e do GV-PEC, palestrante, assessor e consultor em seguros.